Jesus, imagem viva da dor, foi estendido pelos carrascos sobre a cruz ; Ele próprio se sentou sobre ela e eles brutalmente O deitaram de costas. Colocaram-Lhe a mão direita sobre o orifício do prego , no braço direito da cruz e ai lhe amarraram o braço. Um deles se ajoelhou sobre o santo peito, enquanto outro lhe segurava a mão , que estava se contraindo e um terceiro colocou o cravo grosso e comprido , com a ponta limada, sobre essa mão cheia de benção e cravou-o nela, com violentas pancadas de um martelo de ferro.
Doces , e claros gemidos ouviram-se da boca do Senhor ; o sangue sagrado salpicou os braços dos carrascos ; rasgaram-Lhe os tendões da mão , os quais foram arrastados , com o prego triangular , para dentro do estreito orifício. As verrumas eram grandes peças de ferro , da forma de um T ; não havia nelas nada de madeira. Também os pesados martelos eram , como os cabos, de ferro e todos de uma peça inteiriça ; tinham quase a forma dos martelos de pau que os marceneiros trabalham com formão.
Os cravos , cujo aspecto fizera tremer Jesus , eram de tal tamanho que, seguros pelo punho , excediam em baixo e em cima de uma polegada. Tinham a cabeça chata , da largura de uma moeda de cobre , com uma elevação cônica no meio. Tinham três gumes ; na parte superior tinham a grossura de um polegar e na inferior a de um dedo pequeno ; a ponta fora aguçada com uma lima.
Depois de terem pregado a mão direita de Nosso Senhor , viram os crucificadores que a mão esquerda , que tinham também amarrado ao braço da cruz , não chegava ate o orifício do cravo. Por isso ataram uma corda ao braço esquerdo do Salvador e , apoiando os pés sobre a cruz , puxaram a toda força , ate que a mão chegou ao orifício do cravo. Jesus dava gemidos tocantes ; pois deslocaram-lhe inteiramente os braços da articulações ; os ombros , violentamente distendidos , formavam grandes cavidades axilares , nos cotovelos se viam as junturas dos ossos. O peito levantou-se-Lhe e as pernas encolheram-se sobre o corpo. Os carrascos amarraram-lhe fortemente os braços e cravaram-Lhe então cruelmente o segundo prego na mão esquerda de Jesus ; jorrou alto o sangue e ouviram-se os agudos gemidos de Jesus , por entre as pancadas do martelo. Os braços do Senhor estavam tao distendidos , que formavam uma linha reta e não cobriam mais os braços da cruz. Havia na cruz , em baixo , talvez a um terço da respectiva altura , uma peça de madeira , fixa por um prego muito grande , destinada a suportar os pés de Jesus , afim de que ficasse mais em pé do que suspenso ; de outro modo as mãos teriam sido rasgadas pelo peso do corpo e os pés não poderiam ser pregados sem quebra-los. Tinham também feito uma cavidade para os calcanhares , como também havia outras , em vários pontos da cruz , para que o Mártir pudesse ficar suspenso mais tempo e o peso do corpo não Lhe rasgasse as mãos , fazendo-O cair.
Todo o corpo do nosso Salvador tinha-se contraído para o alto da cruz , pela violenta extensão dos braços e os joelhos tinam-se-Lhe dobrado. " Ele não quer estender-se , disseram os carrascos com escarnio, mas nos Lhe ajudaremos." Atando cordas a perna direita, puxaram-na com horrível violençia , ate o pé tocar no suporte e amarraram-na a cruz. Foi uma deslocação horrível , que se ouvia estalar o peito de Jesus , que gemia alto : " MEU DEUS! MEU DEUS!"
Tinham-Lhe amarrado também o peito e os braços , para os pregos não rasgarem as mãos ; o ventre encolheu-se-Lhe inteiramente , as costelas pareciam a ponto de destacar-se do esterno. Foi uma tortura horrorosa.
Amarraram depois o pé esquerdo com a mesma brutal violência , colocando-o sobre o pé direito e como os pés não repousavam com bastante firmeza sobre o suporte , para serem pregados juntos , perfuraram primeiro o peito do pé esquerdo com um prego mais fino e de cabeça mais chata que os cravos, como se fura sovela. Feito isso , tomaram o cravo mais comprido que o das mãos , o mais horrível de todos e , passando-o brutalmente pelo furo feito no pé esquerdo , atravessaram-Lhe a marteladas o direito, cujos ossos estalavam , ate o cravo entrar no orifício do suporte e, através desse , no tronco da cruz.
Os gemidos que a dor arrancava de Jesus , misturavam-se com continua oração ; recitava trechos dos salmos e dos profetas , cujas predições nessa hora se cumpria ; em todo caminho da cruz , ate a morte , não cessava de rezar assim e de cumprir as profecias. Enquanto Jesus era pregado a cruz, pela posição do sol era cerca de doze horas e um quarto , quando no momento que elevaram a cruz , ouviu-se do Templo o soar de muitas trombetas : " Era a hora em que imolavam o cordeiro pascal."
Anna Catharina Emmerich.
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